A cultuada série Babylon 5 retorna às telas em breve. J. Michael Straczynski, o criador da série original, vem liberando novas informações e nos deixando muito curiosos com este novo projeto.
O novo trabalho já está pronto e consiste em um filme animado, chamado “Babylon 5: The Road Home” (“Babylon 5: O Caminho de Casa” em tradução livre). Nessa história, segundo o release da Warner Bros., acompanharemos John Sheridan através de diversas linhas do tempo e realidades alternativas enquanto ele tenta encontrar o caminho de volta para sua realidade.
O filme trará de volta as vozes dos atores originais: Bruce Boxleitner como John Sheridan, Claudia Christian como Susan Ivanova, Peter Jurasik como Londo Mollari, Bill Mumy como Lennier, Patricia Tallmann como Lyta Alexander e Tracy Scoggins como Elizabeth Lochley. Outros atores farão as vozes de personagens igualmente importantes na série, mas cujos atores originais já faleceram: Paul Guyet como Jeffrey Sinclair e Zathras, Rebecca Riedy como Delenn, Anthony Hansen como Michael Garibaldi, Phil LaMarr como o Dr. Stephen Franklin e Andrew Morgado como G’Kar. Piotr Michael será a voz de David Sheridan, personagem que não havia aparecido na série original.
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Pela presença de David pode-se depreender que a trama se passa em algum momento no período de aproximadamente 20 anos existente entre o penúltimo e o último episódio da série original, período esse suficientemente amplo para permitir sua exploração por novas produções do tipo. Especula-se que o filme será lançado durante a realização da Comic-Con de San Diego, que acontecerá a partir de 20 de Julho deste ano.
O lançamento da nova produção está gerando bastante expectativa entre os fãs, que mesmo 30 anos após o início da série original, ainda a reverenciam – e com toda razão, em nossa opinião.
Embora este tipo de produção não seja exatamente o que esperávamos, a animação é provavelmente o melhor compromisso possível, devido ao falecimento de vários dos atores principais da série neste meio tempo. Mas… atenção: o próprio Straczynski já revelou há alguns meses que há algo cozinhando para um possível “reboot” da série com personagens em carne e osso. Com ele no leme, creio que podemos ter boas expectativas para o futuro!
A Série Original
Babylon 5 é tida em altíssima conta entre os fãs de ficção científica devido à reconhecida qualidade narrativa da história: ao invés de seguir o padrão episódico comum da época, lançou-se em um grande arco de cinco anos, contando a história dos vários conflitos entre povos de vários planetas e culturas. A estação espacial Babylon 5 é um cilindro giratório e habitável de 8 km de comprimento construído pela Terra em território neutro; funcionando como um ponto de encontro espacial onde várias culturas se reúnem, fazem diplomacia, comércio e intrigas, a partir de um certo momento encontra-se diretamente envolvida em um conflito de amplas proporções e lidando com uma situação política instável na Terra. Como diz uma das narrações de abertura da série (que mudam a cada ano acompanhando os acontecimentos), o objetivo que a estação fosse um ponto de encontro para promover a paz e entendimento falhou miseravelmente. No fundo de tudo isto, está a luta entre forças de tempos muito antigos, que voltam a se enfrentar aproveitando e estimulando o caos para ampliar seu domínio sobre as espécies que povoam a galáxia na época atual.
Staczynski concebeu a trama de tal forma que detalhes ou mesmo frases soltas, muitas vezes aparentemente insignificantes, antecipam ou têm forte influência em acontecimentos futuros; um dos prazeres em se rever a série é justamente quando estas situações são identificadas, fazendo “cair a ficha” e tornando a experiência ainda mais prazerosa.
Babylon 5 também foi inteligentemente concebida para possibilitar a seu criador a substituição de personagens sem que isso comprometesse a trama ou causasse estranhamento, visto que não havia uma garantia que a produção seria renovada ano após ano e prevendo a possibilidade de atores deixarem a série ou não estarem disponíveis para a temporada seguinte. Tal expediente foi extremamente importante quando, ao final da primeira temporada, o ator principal Michael O’Hare, que interpretava o Comandante de B5 Jeffrey Sinclair, precisou deixar a série. O segundo ano viu a chegada de um novo oficial comandante, John Sheridan, brilhantemente interpretado por Bruce Boxleitner (já conhecido por ter interpretado TRON no filme homônimo da Disney), o qual conduziu o restante da trama. O’Hare ainda retornou ocasionalmente ao longo das temporadas seguintes desempenhando uma importantíssima função, e não é surpresa que seu personagem também esteja na nova produção. Infelizmente, O’Hare não está mais conosco, e Paul Guyet fará a voz de Sinclair. O mesmo mecanismo permitiu a substituição da telepata Talia Winters por Lyta Alexander (que já havia aparecido no piloto da série) quando a atriz Andrea Thompson deixou a série durante a segunda temporada.
A série possui tramas e subtramas, e há arcos específicos na evolução dos personagens, o que torna a experiência ainda mais gratificante. Em especial, o arco narrativo que une os personagens Londo Mollari e G’Kar – respectivamente embaixadores da República Centauri e do Regime Narn – é primorosamente construído, e os personagens que inicialmente parecem ser apenas um alívio cômico trazem à trama uma profundidade poucas vezes vista na televisão. Mérito da qualidade do roteiro, mas especialmente de Peter Jurasik e Andreas Katsulas (este último já falecido), que os interpretaram com paixão.
Uma crítica frequente a B5 é que seus efeitos especiais não teriam envelhecido bem. É compreensível, pois as várias cenas no espaço foram produzidas em CGI utilizando computadores Amiga, conhecidos na época pelo seu alto desempenho em computação gráfica. Impressionantes na altura, estes efeitos hoje nos parecem um pouco simplórios; no entanto, o roteiro carrega tão bem a história que os efeitos não comprometem e ainda se sustentam com muita honra.
A série foi quase que totalmente escrita por Straczynski (92 dos 110 episódios). O famoso escritor de ficção científica Harlan Ellison foi consultor da série (e fez uma pontinha em um episódio) e o próprio Neil Gaiman (sim, ele, o criador de Sandman) escreveu um dos episódios mais tocantes de toda a série.
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Vale a pena mencionar um personagem recorrente na série: Alfred Bester (homônimo do escritor de FC), um vilão brilhantemente interpretado por Walter Koenig (o Chekov de Jornada nas Estrelas). Sua interpretação marcante o tornou um dos vilões favoritos de todas as séries e o próprio Koenig afirma ter muito orgulho de seu trabalho em B5. A verdade é que como afirma G’Kar a certa altura, “ninguém em B5 é inteiramente o que parece ser”, e as nuances sob a superfície dão aos personagens uma dimensão palpável e marcante.
A série deu origem a alguns telefilmes com histórias paralelas, e um deles é o imperdível “In The Beginning” (“No Princípio” em tradução livre), que aborda fatos importantes ocorridos antes do início da série, mostrando onde estavam e o que faziam os personagens principais e desvendando seu impacto no desenrolar dos acontecimentos futuros. De alto teor emocional, apesar de se passar em uma época anterior ao início da série, é recomendável que este telefilme seja assistido apenas após a 4ª temporada, caso contrário o desavisado espectador será vítima de vários “spoilers” que diminuirão o impacto de vários dos acontecimentos.
Apesar da série ter sido originalmente concebida como um arco de cinco anos, a Warner Bros. decidiu encerrar sua produção ao final da quarta temporada. Já antevendo esta possibilidade, Straczynski removeu algumas subtramas e avançou com a história para que ela não ficasse sem resolução e pudesse ser terminada na quarta temporada. Veio então a TNT ao resgate, garantindo a produção da quinta e última temporada, permitindo a retomada das tramas que haviam sido removidas e a finalização do arco narrativo de forma semelhante ao originalmente planejado.
Crusade
B5 deu origem, via um de seus telefilmes (“A Call to Arms” – “Um Chamado às Armas” em tradução livre) a uma outra série baseada no mesmo universo: Crusade. Ao invés de ter a estação espacial como pano de fundo, a série inicialmente segue as aventuras da tripulação da nave Excalibur em uma missão para encontrar a cura para uma doença espalhada como vingança por uma das raças derrotadas no épico confronto interplanetário de B5. Também concebida como um arco de cinco anos/temporadas no qual essa busca pela cura consumiria apenas os dois iniciais, Crusade não chegou a emplacar, sendo cancelada ainda no meio da produção da primeira temporada e com apenas 13 episódios, devido a conflitos entre os produtores e os executivos da TNT. O Sci-Fi Channel ainda indicou a intenção de assumir a continuidade da produção, mas infelizmente não conseguiu alocar os custos em seu orçamento.
Um telefilme de 2002 (“The Legend of the Rangers: To Live and Die in Starlight” (“A Lenda dos Patrulheiros: Viver e Morrer à Luz das Estrelas” em tradução livre) tentou ser um piloto para uma nova série baseada no mesmo universo, mas não teve boa acolhida. Em 2007, houve o lançamento de um último telefilme, com duas histórias independentes (“The Lost Tales: Voices in the Dark” / “As Lendas Perdidas: Vozes na Escuridão” em tradução livre), contando, do elenco clássico, apenas com os personagens Elizabeth Lochley e John Sheridan de B5 e Galen, de Crusade.
Como assistir Babylon 5
Há algumas controvérsias sobre qual seria a ordem correta para se assistir todo o material de Babylon 5 mantendo a coerência dos acontecimentos ao longo do tempo. Nossa sugestão é que os vários conteúdos sejam assistidos na ordem em que foram produzidos e transmitidos, e segue, portanto a lista de todos eles:
The Gathering (Piloto da série, 22/02/1993)
Babylon 5 – Temporadas 1-4 (Série, 26/01/1994 a 27/10/1997)
In The Beginning (Telefilme, 04/01/1998)
Babylon 5 – Temporada 5 (Série, 21/01/1998)
Thirdspace (Telefilme, 19/07/1998)
The River of Souls (Telefilme, 08/11/1998)
A Call to Arms (Telefilme, 03/01/1999)
Crusade: Temporada 1 (Série, 09/06/1999)
The Legend of the Rangers (Telefilme, 19/01/2002)
The Lost Tales: Voices in the Dark (Telefilme, 31/07/2007)
Paolo Fabrizio Pugno é engenheiro eletricista e apaixonado por tudo relacionado à exploração do espaço. É autor do livro “Ano 2023: Missão Europa” (1982) e de diversos contos de FC publicados na revista Histórias Extraordinárias.