Um mapa cartográfico atualizado de Marte, divulgado no início do mês, apresenta uma nova perspectiva do planeta vermelho. Construído a partir de três mil fotos feitas pela sonda Hope, dos Emirados Árabes Unidos, o mapa mostra o planeta em seu verdadeiro tom. A informação é do jornal The New York Times.
“Todas essas cores são naturais em Marte”, diz Dimitra Atri, cientista pesquisador do Centro de Ciências Espaciais da Universidade de Nova York em Abu Dhabi.
A principal finalidade científica da sonda Hope, que ingressou na órbita de Marte há cerca de dois anos, é estudar como tempestades de poeira e demais condições climáticas próximas à superfície afetam a velocidade com que o ar marciano vaza para o espaço sideral.
Quando Dimitra viu a primeira imagem enviada pela sonda, ficou “impressionado com a qualidade da imagem mostrando o disco completo”, alegou ele. “Eu nunca tinha visto Marte assim”, afirmou, surpreso, o pesquisador.
Atlas de Marte não são novidade
Mapas cartográficos de Marte não são novidade. Nos anos 1890, o empresário norte-americano Percival Lowell usou suas finanças para construir o Observatório Lowell em Flagstaff, no estado do Arizona. Enquanto olhava para o planeta vermelho através de um telescópio de 24 polegadas, encontrou o que pensou serem canais artificiais feitos por uma suposta civilização marciana.
Ele viu estruturas semelhantes a raios em Vênus. Posteriormente, foi demonstrado que Lowell pode ter transformado – de forma inadvertida e não proposital – seu telescópio em um espelho. O que ele teria observado então seria a parte de trás do próprio globo ocular.
Já durante a era espacial, diversas espaçonaves passaram por Marte ou ingressaram na órbita do planeta. Sondas anteriores, como a Mars Global Surveyor e a Mars Reconnaissance Orbiter, conseguiram se aproximar mais ainda da superfície marciana. As imagens coletadas forneciam detalhes cada vez mais nítidos da superfície, incluindo dunas de areia, rochas e ravinas.
“São imagens incríveis e espetaculares”, alegou Atri, “Mas você não vê o planeta inteiro de uma vez”, ponderou. Isto porque as condições de iluminação, que mudavam de acordo com o lugar, tornavam difícil a criação de uma visão global.
As dificuldades para obter imagens com clareza
As condições de iluminação não costumam ser um problema para outros tipos de mapas. O Global Surveyor continha um altímetro que projetava um feixe de laser na superfície. Aferindo o tempo que o pulso de luz levava para chegar até a superfície e voltar, o aparelho era capaz de medir a altura de cada recanto da superfície. Com isso os cientistas usaram os dados para fazer um mapa topográfico detalhado.
Para visualização à luz visível, o Telescópio Espacial Hubble, enquanto ao redor da Terra, consegue ver um lado inteiro de Marte. Os pesquisadores juntaram muitas dessas imagens em um mapa global similar ao novo mapa feito a partir dos dados da Hope. Mas Marte, no ponto mais próximo, está a quase 55 milhões de km do planeta Terra. Logo, as imagens do Hubble carecem de nitidez. Por sua vez, Hope viaja em torno de Marte em uma órbita elíptica que varia de 20 mil km a 43 mil km da superfície marciana. Isso é consideravelmente mais alto do que o Mars Reconnaissance Orbiter, mas muito mais próximo do que o Hubble.
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“Pensamos: ‘ok, deveríamos ter um atlas, porque poderemos fotografar Marte por um período de vários anos'”, comentou o cientista. “Portanto, devemos primeiro ter um onde não apenas mapeamos todo o planeta, mas mostramos como ele muda ao longo do ano marciano”, acrescentou.
A solução: Dimitra Atri conseguiu encontrar imagens com condições de iluminação similares para juntar, omitindo aquelas em que, por exemplo, as nuvens obscureciam a superfície. Um processo que durou meses. “É extremamente difícil remover todos os limites e outras coisas”, relembrou o pesquisador.
Algoritmo que fez o mapa pode ser usado em outras missões
Atri contou ao diário norte-americano The New York Times que ele e seus colegas estão escrevendo um artigo científico para descrever o algoritmo desenvolvido por eles. O mesmo método pode ser aplicado a outras espaçonaves que visitam outros lugares, incluindo o Jupiter Icy Moons Explorer, ou Juice, da Agência Espacial Europeia, sonda lançada ao espaço no último dia 14 de abril.
“Essas luas geladas [referindo-se às luas de Júpiter que serão analisadas pela sonda Juice] parecem tão bonitas”, disse o cientista. “Portanto, deveríamos ser capazes de aplicar a mesma técnica”, idealizou.
Jornalista pioneiro no campo da internet brasileira, Mario Cavalcanti começou a trabalhar com conteúdo online em 1996, tendo passado por portais de destaque como Cadê?, StarMedia Brasil, iBest, Globo.com e Click21. Gosta de assuntos como mistérios, criptozoologia, expedições e descobertas científicas. É editor do portal Mundo & História.