Em sítios arqueológicos espalhados por toda a Mesopotâmia – onde atualmente fica o Iraque –, pesquisadores identificaram 32 blocos de argila que revelam uma misteriosa anomalia no campo magnético da Terra ocorrida há aproximadamente 3 mil anos. Os resultados dessa descoberta foram publicados no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).
Os arqueólogos constataram que a força do campo magnético do planeta ficou registrada nos minerais de óxido de ferro incorporados nos tijolos quando estes foram assados por trabalhadores milênios atrás. Para avaliar os grãos de óxido de ferro, a equipe retirou fragmentos cuidadosamente das faces quebradas dos tijolos e os examinou com um magnetômetro. Cada bloco apresentava uma inscrição do nome do rei governante durante sua fabricação.
Um mapa histórico
A combinação do nome impresso e da força magnética medida dos grãos de óxido de ferro proporcionou um mapa histórico das mudanças magnéticas na Terra. “Ao comparar artefatos antigos ao que sabemos sobre as condições antigas do campo magnético, podemos estimar as datas de quaisquer artefatos que foram aquecidos na antiguidade”, diz em comunicado o autor principal do estudo, Matthew Howland, da Universidade Estadual de Wichita, no Kansas, Estados Unidos.
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Com base nessas estimativas, os pesquisadores afirmam ter confirmado a existência da “Anomalia Geomagnética da Idade do Ferro Levantina”, um período entre aproximadamente 1050 e 550 a.C., no qual o campo magnético da Terra estava excepcionalmente forte na região do Iraque moderno. Embora evidências desse fenômeno tenham sido identificadas na China, Bulgária e Açores, os dados na parte sul do Oriente Médio eram escassos.
Mudanças drásticas no campo magnético
A razão dessa anomalia permanece desconhecida, mas os arqueólogos esperam que a pesquisa em torno das assinaturas do campo magnético os auxilie a datar com maior precisão artefatos que anteriormente não podiam ser datados de maneira exata. “Muitas vezes dependemos de métodos de datação, como datas de radiocarbono, para ter uma noção da cronologia na antiga Mesopotâmia”, explica Mark Altaweel, coautor do estudo, que atua no Instituto de Arqueologia da University College London (UCL). “No entanto, alguns dos vestígios culturais mais comuns, como tijolos e cerâmicas, normalmente não podem ser facilmente datados porque não contêm material orgânico”, explica.
Os pesquisadores constataram que sua técnica estava alinhada com a compreensão dos reinados conhecida pelos arqueólogos como a “Baixa Cronologia”. Em cinco das amostras de tijolos, retiradas durante o reinado de Nabucodonosor II de 604 a 562 a.C., o campo magnético terrestre pareceu mudar drasticamente em um período relativamente curto de tempo, fornecendo indícios adicionais à hipótese de que picos rápidos de intensidade são possíveis.
“Os restos arqueológicos bem datados das ricas culturas mesopotâmicas, especialmente tijolos inscritos com nomes de reis específicos, proporcionam uma oportunidade sem precedentes para estudar mudanças na força do campo com alta resolução temporal, rastreando mudanças que ocorreram ao longo de várias décadas ou até menos”, avaliou a coautora Lisa Tauxe, da Instituição de Oceanografia Scripps, em San Diego, nos Estados Unidos.
Jornalista pioneiro no campo da internet brasileira, Mario Cavalcanti começou a trabalhar com conteúdo online em 1996, tendo passado por portais de destaque como Cadê?, StarMedia Brasil, iBest, Globo.com e Click21. Gosta de assuntos como mistérios, criptozoologia, expedições e descobertas científicas. É editor do portal Mundo & História.